Compositora, instrumentista,
regente. Rio de Janeiro, RJ, 17/10/1847–idem, 28/02/1935. Maior personalidade
feminina da história da música popular brasileira e uma das expressões maiores
da luta pelas liberdades no país, promotora da nacionalização musical, primeira
maestrina, autora da primeira canção carnavalesca, primeira pianista de choro,
introdutora da música popular nos salões elegantes, fundadora da primeira
sociedade protetora dos direitos autorais, Chiquinha Gonzaga nasceu no Rio de
Janeiro, filha do militar José Basileu Neves Gonzaga e de Rosa de Lima Maria.
Estudou piano com professor particular e aos 11 anos compôs sua primeira
música, uma cantiga de Natal: Canção dos Pastores.
Casou-se aos 16 anos, com um
oficial da Marinha Mercante escolhido por seus pais. Poucos anos depois
abandonou o marido por um engenheiro de estradas de ferro, de quem também logo
se separou. Passou a sobreviver como professora de piano. A convite do famoso
flautista Joaquim Antônio da Silva Callado (1848-1880), passou a integrar o
Choro Carioca como pianista, tocar em festas e freqüentar o ambiente artístico
da época. A estréia como compositora se deu em 1877, com a polca Atraente,
composta de improviso durante roda de choro em casa do compositor Henrique
Alves de Mesquita e publicada pela Viúva Canongia, Grande Estabelecimento de
Pianos e Músicas. Por desafiar os padrões familiares da época, sofreu fortes
preconceitos. Aperfeiçoou-se com o pianista português Artur Napoleão
(1843-1925). Sua vontade de musicar para teatro levou-a a escrever partitura
para um libreto de Artur Azevedo, Viagem ao Parnaso. A peça foi recusada pelos
empresários.
Outras tentativas
fracassaram, até que conseguiu, em 1885, musicar a opereta de costumes A Corte
na Roça, encenada no Teatro Príncipe Imperial. Em 1889 promoveu e regeu, no
Teatro São Pedro de Alcântara, um concerto de violões, instrumento
estigmatizado àquela época. Foi uma ativa participante do movimento pela
abolição da escravatura, vendendo suas partituras de porta em porta a fim de angariar
fundos para a Confederação Libertadora. Com o dinheiro arrecadado na venda de
suas músicas comprou a alforria de José Flauta, um escravo músico. Chiquinha
Gonzaga também participou da campanha republicana e de todas as grandes causas
sociais do seu tempo. Já era uma artista consagrada quando compôs, em 1899, a
primeira marcha- rancho, Ó Abre Alas, verdadeiro hino do carnaval brasileiro.
Na primeira década deste
século esteve algumas vezes na Europa, fixando residência em Lisboa por três
anos. De volta ao Brasil deu uma contribuição decisiva ao teatro popular ao
musicar, em 1912, a burleta de costumes cariocas Forrobodó, seu maior sucesso
teatral. Em 1914 seu tango Corta-Jaca foi executado pela primeira- dama do
país, Nair de Teffé, em recepção oficial no Palácio do Catete, causando
escândalo político.
Em setembro de 1917, após
anos de campanha, liderou a fundação da SBAT, sociedade pioneira na arrecadação
e proteção dos direitos autorais. Aos 85 anos de idade escreveu a última
partitura, Maria, com libreto de Viriato Corrêa. Sua obra reúne dezenas de
partituras para peças teatrais e centenas de músicas nos mais variados gêneros:
polca, tango brasileiro, valsa, habanera, schottisch, mazurca, modinha etc.
Chiquinha Gonzaga faleceu aos 87 anos de idade, no dia 28 de fevereiro de 1935,
no Rio de Janeiro.
DADOS CRONOLOGIA
1847 Nasce no Rio de janeiro
a 17 de outubro.
1863 Casa-se com Jacinto
Ribeiro do Amaral.
1864 Nasce seu primeiro
filho: João Gualberto.
1865 Nasce sua filha Maria.
1866 Embarca com o marido no
navio São Paulo, por este fretado, que transporta tropas para a Guerra do
Paraguai.
1869 É homenageada pelo
compositor Joaquim Antônio Callado com a polca "Querida por todos".
1870 Nasce seu terceiro
filho, Hilário.
1875 Nasce Alice, sua filha com
o engenheiro João Batista de Carvalho. Sofre processo de divórcio movido pelo
marido no Tribunal Eclesiástico.
1877 Primeira obra editada: a
polca Atraente, que em nove meses chega à 15ª edição.
1879 Começa a instrumentar,
com autodidatismo.
1880 Anuncia-se publicamente
como professora de várias matérias.
1883 Tentativa frustrada de
musicar libreto de Arthur Azevedo (a produção teatral não aceita uma mulher
como autora da música).
1885 Estréia como maestrina.
1888 Extinção da escravidão
no Brasil, pela qual durante tantos anos Chiquinha Gonzaga lutara.
1889 - Proclamação da
República, outro anseio da compositora.
1890 Nasce a primeira neta.
1891 Falecimento do pai.
1897 Falecimento de Rosa, sua
mãe.
1899 Carnaval. Compõe Ó Abre
Alas. Conhece João Batista, jovem português de 16 anos que seria seu
companheiro até o fim da vida.
1902 Viaja para a Europa.
1904 Segunda viagem à Europa.
1906 Instala-se em Portugal.
1909 Retorno ao Brasil.
1911 Inicia intensa atividade
musicando peças teatrais para os espetáculos por sessões dos cine-teatros da
Praça Tiradentes (RJ).
1912 Estréia Forrobodó, seu
maior sucesso teatral.
1913 Deflagra campanha em
defesa pelo direito autoral dos compositores e teatrólogos.
1914 Lançamento, com grande
sucesso, do tango Corta-Jaca.
1917 Participa da fundação da
Sociedade Brasileira de Autores Teatrais.
1919 Grandeéxito da peça de
costumes regionais Juriti.
1925 Recebe homenagens
consagradoras da SBAT e reconhecimento do país inteiro.
1928 Seu filho João Gualberto
morre em São Paulo.
1933 Aos 85 anos, escreve sua
última partitura para teatro: Maria.
1934 Falecimento da filha
Maria.
1935 Morre no dia 28 de
fevereiro. Dois dias depois realiza-se o primeiro concurso oficial das escolas
de samba.
Verbete biográfico e dados
cronológicos retirados do livro "Chiquinha Gonzaga: uma história de
vida", escrito por Edinha Diniz, em nova edição revista e atualizada.
Jorge Zahar Editora, 2009.